Último dia em Londres

Londres é mesmo uma cidade plural e muito democrática. Você pode andar com o penteado que quiser, a roupa que quiser, que as pessoas não vão reparar. Podem até reparar, mas jamais irão caçoar de você, apontar, rir ou falar qualquer coisa. Parece que as pessoas simplesmente não se importam. Elas até se importam, mas respeitam a vida alheia. Na verdade, isso é um comportamento comum em toda a Europa. Um exemplo são as casas que tem as janelas voltadas para a calçada, mas não possuem cortinas. As pessoas não tem cortinas porque sabem que ninguém ficará olhando pela janela. Isso é bem comum em  Londres.

Imagem bonita para deixar post mais lindo.

A democracia está na qualidade do espaço público. Transportes que funcionam com qualidade, calçadas limpas, ruas seguras. Vejam na foto abaixo essas cadeiras colocadas no Hyde Park para possibilitar que qualquer um possa tomar banho de sol. Uma bobagem para alguns, mas para nós, um exemplo de civilidade. Eu sempre faço o exercício de imaginar, da pior maneira possível, essas coisas no Brasil: as pessoas roubariam e destruiriam as cadeiras, ou chegaria um maluquinho, estilo flanelinha, e cobraria pelo seu direito de sentar, ou ainda iria te oferecer uns petiscos e uma cervejinha. É um domínio alheio de um espaço público que é de todos nós, na verdade, democrático.

Cadeiras confortáveis e públicas no Hyde Park pros banhos de sol.

A maior manifestação de democracia que vi na vida, fica no mesmo local, e se chama Hyde Park Corner, à sudeste do parque. Lá, encontramos diversas pessoas, em cima de pequenas escadas e banquinhos, cercadas por populares, dircursando sobre os mais variados assuntos. Inclusive, um muçulmado discutindo o Alcorão com um judeu, cercado de curiosos e religiosos. E a conversa jamais ultrapassava a barreira do respeito. Conversando com uma londrina, ela me disse que a esquina é famosa por ser o espaço em Londres onde qualquer um pode manifestar sua opinião, religião ou discursar sobre o assunto que quiser, que haverá sempre alguém para ouvir. Ela mesma me disse que já passou pelo parque, e o assunto em pauta era tomate. Estranho, mas acima de tudo, democrático.

Muçulmanos e judeus discutindo religião na praça.

Saímos do Hyde Park em direção ao Palácio de Buckingham. A idéia era refazer a foto que meu pai fez quando estava em Londres, em 1979, em sua viagem pela Europa. Acho que gosto muito de viajar por causa dele, e essa também é a minha maneira de encontrá-lo, mesmo que seja no lugar, em um tempo diferente. Tentar de certa maneira seguir seus passos, sentir os mesmos cheiros e talvez sabores, apreciar as mesmas paisagens. Essa é minha forma de chegar mais perto dele.

Meu pai, de vermelho, tentando ver a troca de guarda em 1979.

Eu, imitando ele, em 2012.