Um pouco mais sobre La Rochelle

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A vida que eu queria.

Apesar de ser uma cidade a beira do mar, um mar de um azul incrível, diga-se de passagem, La Rochelle não tem praia. As melhores praias se encontram na Ile-de-Ré, uma ilha muito próxima. Para ir até lá é preciso pegar um ônibus (KEOLIS – LES MOUETTES) na estação de trem, ou ir de carro (cobra-se pedágio), atravessando uma ponte de 3 km. A ponte também permite a passagem gratuita de bicicletas e pedestres, mas a viagem até lá pode demorar cerca de uma hora.

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O mapa mostra a ponte que liga La Rochelle a Ile de Ré.

Meda.

La Rochelle tem um aquário super bacaninha. Programa super imperdível para crianças. A entrada custa 13,00 euros. De cara, para acessar o aquário, a gente precisa pegar um elevador, que mais parece o interior de um submarino. Enquanto o elevador se movimenta, assistimos a uma projeção como se estivéssemos descendo pro fundo do mar. No aquário de La Rochelle, vi os mais variados tipo de estrela do mar. A parte mais interessante é sem dúvida o grande aquário que hospeda dois enormes tubarões brancos. Você passa por um túnel, debaixo do aquário, com os tubarões sobre sua cabeça. Image

No final, tem uma floresta tropical, totalmente úmida e quente, com cheiro de Brasil, bom pra matar a saudade de casa. Tem até um lago cheio de piranhas e cágados atravessando a pista.

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Eu teria uma plaquinha dessa em casa.

Sobre a comida. La Rochelle, como toda boa cidade litorânea deve ser, tem os frutos do mar mais frescos, grandes e gostosos. Aproveite para experimentar as ostras, para quem gosta são espetaculares, grandes e suculentas, para quem nunca provou (meu caso), vale a pena.

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Assiette de frutos do mar.

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As famosas ostras de La Rochelle.

La Rochelle tem muitos restaurantes na Orla. Obviamente os que se localizam a beira do mar tem os preços mais salgados. Evite os mais óbvios, passeie pelas estreitas ruas do centro, ali você vai encontrar restaurantes com menus a preços acessíveis, de 12 a 16 euros: entrada, prato principal e sobremesa.

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Quem disse que massa não combina com peixe?

Se você quiser comer o famoso petit gateau, lembre-se que esse é o nome em português da sobremesa. Em francês, a iguaria se chama Fondant au chocolat, e é maravilhoso.

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A sobremesa nossa de cada dia.

Mas a melhor descoberta que fiz em La Rochelle foi a Ernest, o melhor sorvete da França até agora, na minha opinião.

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Os sorvetes que provei foram Iogurte e Amarena.

Tem mais de 200 sabores, evidentemente não dá pra provar todos numa ida a La Rochelle. Infelizmente, eu não fiz foto do meu sorvete, pois nesse momento eu estava tomando sorvete, pedalando, atrasada, cheia se sacolas na bicicleta. hehe.

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A loja em Cours de Dames.

São duas lojas, uma na Petite rue du Port, 6, e outra na Cours de Dames, 48.
 www.ernestleglacier.com

Como não amar La Rochelle

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Tour de la Chaîne, cidade que foi principal porto marítimo da França no século XV, junto com Bordeaux.

Cidade milenar localizada no litoral atlântico da França, La Rochelle encanta pela tranquilidade, pelo tom de azul do mar, seus frutos do mar super frescos e a beleza arquitetônica.

Para chegar aqui, pegamos um trem de alta velocidade, o TGV, em Paris, que partiu da estação Montparnasse. O preço da viagem gira em torno de 85 euros, e a viagem, sem parada, tem duração média de 3h12.

La Rochelle não oferece muitas opções de hospedagem, então escolhi alugar um quarto em uma casa linda, super confortável e aconchegante, com um quintal super grande, um pouco afastada do centro histórico, mas encantadora. Ao entrar em contato com a proprietária, Carol, pelo AirB&B, descobri que seria possível alugar uma bicicleta, o que tornava o meu deslocamento até o pavilhão do evento (fui para La Rochelle para participar do Sunny side of the doc) rápido e agradável. Na foto abaixo, o quintal da casa onde fiquei hospedada, com direito a casa na árvore e cerejeira. E o mais interessante do AirB&B, na minha opinião, é ter a oportunidade de saber mais sobre o lugar por meio de alguém que mora lá.

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Quintal da casa encontrada no AirB&B, a alguns minutos do centro histórico de La Rochelle.

Todos os dias, percorríamos cerca de 6km (ida e volta) de bicicleta para o pavilhão, na maior parte do tempo, por uma ciclovia lindinha, que corria em paralelo com o trilho do trem e tinha, do outro lado, um jardim lindinho, super bem cuidado.

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Ciclovia de acesso exclusivo de bicicletas e pedestres, que liga o bairro de Bellevue ao centro.

Carol, minha anfitriã, além de topar ter paciência e tentar entender meu francês, pra eu treinar, me contou que La Rochelle foi a primeira cidade a adotar um sistema de bicicletas públicas bem sucedido do mundo, em 1976. Hoje, o Yélo (nome da concessionária que administra as bikes, os ônibus e as travessias de barco) tem estações abastecidas com energia solar, bicicletas para carregar cadeirantes, bikes com cadeirinhas de criança e cadeiras de rodas para aluguel, sendo que tanto as bikes como as cadeiras tem acesso integrado nos outros modais (ônibus e barcos).

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Estações abastecidas a luz solar.

Por ter sido a primeira cidade a adotar as bikes públicas, La Rochelle passou um severo tratamento de traffic calming. O carro nem sempre (na verdade, quase nunca) faz o caminho mais rápido, a velocidade máxima não chega a 40km/h (os ônibus andam até mais devagar do que isso), em muitos locais da cidade a calçada é da mesma altura da rua. Vejam o exemplo na foto abaixo.

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Calçadas possuem a mesma altura da rua, o asfalto recebe cobertura especial que obriga os carros a diminuírem a velocidade.

Em certos trechos do centro histórico, carro não entra, em outros, para entrar, é preciso pagar pedágio. Não precisa nem dizer que, em todas as travessias de bicicleta e faixa de pedestres, os carros param, se tiver alguém com a intenção de atravessar. Por ser uma cidade pequena, com cerca de 80 mil habitantes, se tornou a cidade mais agradável não só para pedalar, como para andar. Pra se ter uma ideia, eu consegui pedalar e tomar sorvete ao mesmo tempo. Vejam na foto abaixo, o amigo pedala com fones de ouvido, tranquilamente.

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Rua principal de La Rochelle, onde se localizam bares e restaurantes.

No entanto, pedalar em La Rochelle não é fácil. Como muitas cidades históricas da França, La Rochelle não é organizada em quarteirões, e as ruas não necessariamente te levam de norte a sul. Do centro histórico, saem ruas para todos os lados, o que te obriga a andar com o mapa aberto a todo o momento e o que fez me perder feio. Perdi a referência do litoral ao atravessar um parque, e por alguns instantes achei que não conseguiria retomar o rumo.

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Nas ruas do centro histórico, existem sharows, ou seja, as bicicletas dividem espaço com os carros, e podem andar nas duas mãos.

Tive que parar em duas ocasiões para perguntar, e gastar o francês básico, porém eficiente.  Mas como eu acredito que se perder é tão ou mais importante do que se achar, estava até achando divertido.

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O fim de tarde em La Rochelle na verdade é de noite no verão. O sol se põe por volta de 21h30.

Logo ali

Entre o Rio e São Paulo, entre o rio e a estrada, entre o céu e a terra. Segue pela dutra, passou pelo posto de observação, pega uma estradinha antes do ponto de ônibus de madeira. Segue pela estrada perfumada de eucaliptos. Pulmões se expandem. Passa pela fábrica de doces, curva vai curva vem, uma bifurcação e a intuição te leva pra lá.

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Passa o mataburro, chegou. O lugar é simples, cercado de natureza, tapete de grama verde, cheiro de jasmim, um balanço pendurado numa árvore bem alta é tipo um sonho bom, uma foto de cartão postal. Pára o carro, apaga os faróis, ouve o som de grilo cantando, sente o cheiro de terra molhada da chuva fina que acabou de cair.

Solta o cachorro, tira as malas do carro. Vai na cozinha da grande casa de fazenda e é recebido com um sorriso da Ana, a chefe do pedaço, ela diz teu quarto e te oferece com uma sopinha quente. Você deixa suas malas, come a sopa, conversa com quem já chegou.

Aquele lugar é especial não só por ser o nosso pedacinho de natureza, mas porque por ali transitam ou já transitaram boas almas, bons humanos que deixam porções de sua energia vital, capazes de fazer florescer as mais belas flores.

Por ali passam e já passaram muitas pessoas especiais. E com certeza ficaram por lá os bons fluidos que os trouxeram. Ficou ali também o brilho da alma daqueles que cercaram aquele pedacinho de terra, deram-lhe um nome lindo e construíram ali, tijolo por tijolo, uma das mais sólidas de todas as edificações humanas: a amizade.

Hoje, o nem hotel nem casa de campo ou tudo isso misturado é o lugar da amizade. O lugar do reencontro, de fazer e refazer amigos, de ouvir boas histórias e de fazer surgirem outras boas histórias. Lugar de sentar e contemplar, ou de comer comida boa, tipo comida de mãe, a nossa melhor recordação da infância, e depois dormir de tarde que nem criança, de barriga cheia, no escurinho do quarto. Lugar de ler um bom livro, jogar carta a noite toda, lavar a alma na cachoeira, suar o cansaço na sauna bem quente e depois resfriar o corpo na ducha gelada, jogar vôlei, futebol, brincar de pique com as crianças, fazer isso tudo e depois voltar pra casa com a sensação de que a gente rejuvenesceu alguns anos, e renovou o espírito para viver mais alguns outros anos, sabendo que ali, naquele meio do caminho, tem um lugar pronto pra nos mostrar como ser feliz é simples e exige tão pouco.

Copenhagen, sua linda

Chegamos na primavera a uma Copenhagen fria e chuvosa de manhã, fria e ensolarada a tarde. De acordo com o Mikael, esse início de primavera estava mais frio do que o habitual, e os dinamarqueses já estavam ansiosos pela chegada do calor. Copenhagen nos pareceu uma cidade grande, mas é possível fazer tudo de bicicleta. A cidade é cortada por dois lagos, que mais parecem canais, e banhada pelo mar, por isso, é fácil se localizar.

Nossas bikes na beira de um dos lagos.

A principal atração turística é uma escultura da pequena sereia, conto criado aqui pelo escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. A escultura em si é pequena, e bem sem graça, e o que mais me chamou atenção nesse lugar foram as lindas criancinhas que se aventuravam nas pedras. As crianças e mulheres dinamarquesas são muito lindas. Os bebês são gordos, carecas, de olho azul, e com a bochecha rosada. Todas as mulheres parecem a Barbie, sem exceção.

Cara de boneca.

Além disso, as pessoas em Copenhagen tem um bom gosto pra se vestir acima da média. Todas são magras, e acho que  bicicleta ajuda nisso, e tem muito estilo. Depois de visitarmos a pequena sereia, fomos andando pelo pier, de onde é possível ter uma bela visão das plantas de energia eólica. De acordo com o Mikael, 20%da energia do país provém dos ventos, uma tecnologia que já devia ter sido implantada no Brasil, especialmente no nordeste.

Torres de energia eólica ao fundo.

Depois, retornamos por dentro do Kastellet, uma espécie de ilha com jeito medieval em formato de estrela. Fiquei encantada com o lugar, suas pontes, e construções antigas.

Uma das pontes de saída do Kastellet, antiga sede do reinado.

Saindo do Kastellet, nos deparamos com um belo chafariz.

A Dinamarca é uma monarquia parlamentar. Caminhando pela cidade, é possível ver ministros indo para o trabalho a pé ou de bicicleta. Quando chegamos a Amalienborg Slot, a praça central onde fica localizado o palácio da rainha Margarida II, a vimos chegando de carro. Diferente do Brasil, o carro da rainha não possui insulfilm nos vidros, e não tem a metade dos batedores que temos aqui. Foi possível ver a rainha dentro do carro. Só não deu tempo de tirar uma foto dela.

Palácio da rainha.

Continuamos nosso passeio de bike pela orla, até chegar numa bela construção moderna, o teatro Skuespil-huset, todo envidraçado, com seu café lotado de pessoas aproveitando o calor do sol.

A impressão que eu tive é a de que os dinamarqueses sabem aproveitar a vida, aparentam serem pessoas felizes, e dão muito valor a família. O Mikael disse que o índice de felicidade bruta aqui é o maior da Europa, mas ele acha que as pessoas são satisfeitas com a vida que tem, contentes, o que seria diferente de felicidade. “Elas tem acesso a boa educação, saúde, as cidades são mais limpas e silenciosas, a qualidade de vida é alta, mas não esbanjam felicidade”, disse Mikael.

Seguindo, chegamos numa rua a beira do canal repleta de bares e restaurantes lotados, com casinhas bem coloridas. Uma delícia deixar o tempo passar sentado a beira do canal Nyhavn.

Fiquei pensando que, de todas as cidades da Europa, aquelas à beira do mar são as que mais me atraem, pois eu tenho realmente necessidade de estar próxima ao mar. Um pausa pro almoço pra descobrir que a comida aqui não é muito típica, e sofre a influência de diversas culturas. O carro chefe dos restaurantes é o hamburguer com uma carne bem caprichada preparada por eles, e molho a base de wisky JW. O prato da foto abaixo é uma entrada: pasta de homus com curry e pão de campanha.

Homus com curry.

Aliás, o pão produzido em Copenhagen é um dos melhores, se não o melhor, que já comi na vida. Eles tem mil tipos de farinhas. Destaque especial para essa padaria (está mais pra uma boulangerie), que vendia os doces mais incríveis do mundo.

Essa é a LAGKAGEHUSET, a loja de pães e doces mais incrível de Copenhagen.

O detalhe só pra dar água na boca.

Tartelete de morango.

Destaque especial para o bolinho que comprávamos todo dia.

Bolinho de amêndoas ou nozes (nunca saberemos) com caldinha de laranja, insuperável!

Eu que nem um monstro devorando a iguaria:

Sem palavras.

É gostoso passear na Laederstaede, rua fechada para carros quase em frente ao Tivoli, com várias lojinhas fofas, inclusive uma mega loja da LEGO, marca de brinquedos criada aqui na Dinamarca. Foi lá que encontramos esse grupo se apresentando. Um coral de adolescentes interpretando músicas contemporâneas, uma delícia de ouvir. Eles cantaram Back for good, eu amo.

O maestro regendo com um bebê no carrinho. Curioso.

E por último, e não menos importante, fomos ao Tivoli, e eu andei pela primeira vez de montanha russa. É ridículo. Mas foi minha primeira vez. E eu amei tanto. O Tivoli é o parque mais antigo do mundo. Reza a lenda que o Walt Disney esteve aqui, e aqui teve a idéia de construir a Disney. Eu acredito.

Estava chovendo, eu morrendo de medo. Tínhamos pouco tempo, pois precisávamos ir para o aeroporto. Então, pagamos para entrar e ir em apenas um brinquedo. Escolhemos a montanha russa. Muito medo. Muito rápido. Amei tanto. Tive que comprar a foto pra guardar para sempre. Demais.

Copenhagenize

Comecei a minha entrevista com o Mikael Colville-Andersen citando um trecho do artigo de Roberto DaMatta entitulado “Ladrões de bicicleta”.

“Como andar de bicicleta em cidades nas quais motoristas têm como esporte atropelar — pela ordem — pedestres, ciclistas e motociclistas — esses últimos com plena legitimidade, os dois primeiros porque a rua não lhes pertence. Todos, porém, porque são figuras menores numa visão desigual do espaço público. Um espaço que é pessoalmente demarcado de acordo com o tipo de veiculo, a agenda do dono do carro, bem como as suas circunstâncias de vida. (…) Pois, se os automóveis são movidos a cavalo e dirigidos por déspotas; as bicicletas, até provem o contrário, são tocadas por idealistas e ingênuos: esses inocentes que acreditam no respeito pelas normas e pelos outros”.

Mikael respondeu que esse tipo de segregação social, tão comum no Brasil, simplesmente não existe em países da Europa como a Dinamarca, por isso é tão difícil comparar o Rio com Copenhagen, por exemplo. Mas ele acredita que exista solução. “No Rio, vemos muita gente usando bicicleta como meio de transporte. A maioria das entregas, farmácias, supermercados e lojas, é realizada com elas. As pessoas precisam lotar as ruas de bicicletas, e forçar o poder público a criar a infra-estrutura necessária. Essa é a década do Rio, o mundo está olhando para cá. Acho que esse é o momento da mudança”, disse Mikael.

Mikael é inventor do movimento Cycle chic, e prega que é possível ter estilo sobre duas rodas. Sendo a bicicleta o meio de transporte mais rápido e eficiente, não precisaríamos de carro para nada, nem para sair à noite.

Da entrevista surgiu o convite para irmos até Copenhagen ver de perto como a cidade funciona. Mikael é canadense, mas escolheu Copenhagen para viver. Ele tem uma empresa de marketing especializada em dar consultoria para governantes de grandes cidades de como torná-las mais amigáveis às bicicletas. O nome do projeto é “Copenhagenize”, um neologismo que significa “tornar as cidades mais parecidas com Copenhagen”.

Cruzamento de Copenhagen, local em que convivem pedestres, ciclistas, autmóveis e ônibus em harmonia.

Mikael basicamente observa, e executa projetos com o objetivo de dar mais conforto aos usuários. Ele conta o número de ciclistas, verifica se estão utilizando a ciclovia da maneira adequada, observa se as pessoas criam atalhos ou vias alternativas e recria a infra-estrutura em cima dessas novas demandas. E a infra-estrutura é sempre criada de modo a ampliar o trajeto percorrido pelos carros dentro da cidade, e encurtar distâncias das bikes.

Esquina movimentada de Copenhagen próximo à Christiania.

Desde que começou o trabalho, o número de acidentes envolvendo ciclistas caiu de 15 ao ano, para 1. E o objetivo é cair ainda mais. Mikael também criou a onda verde para bicicletas. Se todos pedalarem a 30Km/h, o sinal estará verde desde ponto de saída até o destino final. Dentre as facilidade criadas para melhorar a vida dos ciclistas, destacam-se a ampliação das ciclovias de mais movimento, e a criação de sinalização específica para as bicicletas, de modo que o sinal abra primeiro para o ciclista, reforçando a prioridade.

Vale lembrar que na Dinamarca a legislação é bem mais rigorosa quanto às infrações de trânsito, fazendo com que a prioridade dos menores sobre os maiores seja colocada em prática de maneira exemplar. Ir a Copenhagen é realmente transformador.

Foto de Mikael Colville do livro “Cycle Chic”.

Quando eu lhe perguntei sobre a sua paixão pelas bicicletas, Mikael respondeu que a questão não envolve necessariamente paixão, e sim praticidade, e que pedalar é tão comum para os dinamarqueses que ninguém pára para se perguntar qual é o sentimento que isso proporciona. Eles simplesnte pedalam. Inclusive é comum ver pessoas com problemas físicos, que utilizam bengala ou andador, usarem a bicicleta para se deslocar, carregando o andador ou a bengala no bagageiro. Senhoras e senhores idosos, pais e mães com cargobikes carregando seus filhos, jovens indo para a night de salto alto, são cenas comuns em Copenhagen.

A aconchegante casa do Mikael em Copenhagen.

Mikael oferece Bike & Breakfast, uma maneira simpática de dizer que ao se hospedar com ele, a sua bicicleta está garantida. Apesar do frio congelante, pedalar em Copenhagen é muito prazeroso. Respeitando as regras, e fazendo a sinalização adequada, qualquer um pode vivenciar essa experiência. A Mary, essa menina da foto acima, sentada na minha frente, é assistente do Mikael. No dia seguinte, ela viajou para o interior de bicicleta, cerca de 23 km, e garante que o caminho é todo coberto por ciclovias, fazendo com que o trajeto seja rápido e prazeroso.

Nossas bikes!

Minha foto Cycle Chic. Fotografei essa moça no meio das cerejeiras em Copenhagen. Ela ficou envergonhada, mas topou posar para mim. Super chic!

COPENHAGENIZE RIO JÁ!

Último dia em Berlim

Berlim é um museu a céu aberto, não só pela história, que está em cada pedacinho da cidade, mas pelo incentivo a arte. Exemplo disso é a East Side Gallery, a maior galeria de arte a céu aberto do mundo. São 1,3Km do que sobrou do muro, com trabalhos de 119 artistas, e mais de 21 países representados.

O muro se tornou tão importante, que algumas de suas pinturas estampam os souvenirs da cidade. Uma delas é o grafite que reproduz o beijo entre o líder soviético Leonid Brejnev e o seu correligionário alemão oriental Erich Honecker, feito pelo artista Dimitrij Vrubel. O beijo foi registrado em foto num encontro entre os políticos em 1979, e também serviu de inspiração para a campanha da Benetton chamada Unhate, que criou novos beijos entre líderes políticos mundiais através de montagem, gerando grande polêmica.

Saímos do muro e fomos caminhando até a Rosenthaler Platz, importante centro comercial da cidade, onde fica baseado o complexo empresarial da Sony. Nos deparamos com tubos cor de rosa atravessando a paisagem, e descobri que eles servem para drenar água do solo para construções próximas. Uma loucura estética bem típica de Berlim.

Outdoor de Gisele Bundchen na Rosenthaler Platz, em Berlim. Ela estava em todas as cidades que fomos.

Paramos para almoçar num restaurante de comida típica alemã. De entrada, sopa de capeletti. Nada mais é do que um capeletti boiando numa água com sal, e um pouco de salsinha por cima.

Essa até minha afilhada de 5 anos prepara.

Depois pedimos o famoso salsichão com molho de ketchup e curry, o Currywurst. A estrela da culinária alemã, que consiste em:

salsichão

ketchup

curry

Vê se pode. Nem no auge da minha preguiça mor eu já fiz um prato tão preguiçoso quanto esse. Sério, gente. A culinária alemã não disse a que veio.

Agora, em Berlim eu tomei o melhor sorvete da viagem, com consistência e sabor italianos. Uma bola custava 90 centavos de euro. Óbvio que tomei todo dia o meu preferido do momento: iogurte com frutas vermelhas. Delícia!

Depois da farra do sorvete de iogurte, fomos ao monumento dos judeus mortos na guerra. Eu adorei. Claro que o monumento é super triste, e uma simbólica e bonita homenagem.

Mas os blocos de concreto formam um labirinto que diverte turistas e jovens de Berlim, com a velha brincadeira do pique-esconde. É uma gritaria danada lá dentro.

Resolvemos fazer uma sequência de pulos que nos divertiu por um bom tempo, até o momento que alguém se machucou, óbvio.

É com meu balé aéreo que eu me despeço de Berlim. Até Copenhagen!

Roberto, balança a cabeça três vezes se você gostou desse post.

Sua casa em Berlim

O nosso quarto, com oito camas, mas super aconchegante.

Eu gostaria de dar especial destaque nesse blog ao hostel de Berlim, o Circus. Bem localizado, foi o melhor hostel em que fiquei hospedada nessa viagem, e na minha vida. Primeiro porque a decoração é impecável, tanto nas dependências do hostel quanto do quarto. Depois porque tudo é bem pensado pro máximo de conforto possível, e para facilitar o convívio entre as pessoas. Vou dar exemplos:

– Não tem essa de pia no quarto. Isso faz toda a diferença pra quem chega tarde e quer escovar os dentes, sem ter que acordar os coleguinhas de quarto;

– Para o quarto em que eu fiquei, de oito pessoas, existem três chuveiros, que ficam do lado de fora do quarto. Os chuveiros são cabines individuais, e possuem um blindex que separa o local do banho do local da troca de roupa. Parece óbvio, mas em todos os outros hostels em que ficamos, a divisão era feita por cortina, ou não tinha sequer divisão, e o chão do banheiro inteiro ficava molhado, dificultando a troca de roupa. E o banho é bom, água forte e quentinha. Além disso, o banheiro também possui uma pia, para o caso de a pessoa querer escovar os dentes depois do banho. Simples e inteligente;

– Além disso, o quarto disponibiliza espaço ao lado de cada cama para a colocação da mala, mesinhas de cabeceira e luzes individuais para leitura. Ok, um defeito: o locker é pequeno e só dá mesmo para guardar dinheiro e pertences pequenos como o celular, não cabendo, por exemplo, um laptop. Mas eu deixava trancado dentro da mala e deu certo;

Outra coisa simples, mas essencial: um cabideiro para pendurar os casacos!

– Tem um espelho inteiro no quarto. Por incrível que pareça, faz toda a diferença poder ser olhar por inteiro depois de 20 dias de viagem, e ver se o look está combinando;

– Além de tudo isso, o quarto era grande, tinha uma mesa grande, e uma vista muito maneira da cidade.

Sem falar do café da manhã, o meu predileto da viagem. Não estava incluído no preço do albergue, mas custa 5 euros, e você come até morrer. É o mais variado que já vi. Tem frutas, iogurte, cereais, pães, frios, saladas (acho estranho, mas tudo bem), suco de laranja ou café incluído e o melhor: waffles fresquinhos, e uma torradeira para esquentá-los. Passei bem nesse albergue e comia uns 4 waffles logo pela manhã para dar sustança. Hummm, deu até fome.

A farra do waffle.

Zoológico de Berlim

Eu não gosto de bicho preso. Eu acho zoológico uma crueldade. Mas eu amo bicho. Eu amo muito. Eu queria ter uma fazenda só pra ter os bichos: a galinha Jurema, o Galo Garnizé, a vaca Dulce, os patinho Teófilo e Aristônio, e as cabras Queila e Gilda, as ovelinha Doly e Floco. Mas todos morreriam de velhice, e viveriam soltos.

Nome dos animais em alemão. Ainda bem que tinha a figura ao lado.

Então, de posse de todo esse amor pelos serzinhos da natureza, escolhi como primeiro passeio da cidade ir ao Berlim Zoo. E me diverti muito, apesar de quase morrer de tanta pena daqueles bichinhos que não suportam mais a vida em confinamento, e fazem os mesmos movimentos repetitivos durantes horas, dias, ou uma vida toda.

Mas me diverti com os gigantes e mal encarados hipopótamos, e seus filhotes simpáticos e desajeitados, de uma fofisse só. Eu só conseguia pensar no filhotinho de hipopótamo pigmeu Iuni, que nasceu no zoológico de Tókio, e que eu quase morri de amor ao ver as fotos.

Iuniiiiiiiiiiiiiiiii. Esse pequeno aí fica no Zoo de Tókio.

Aquário dos hipopótamos em Berlim. Olha o bichão passando lá embaixo.

Filhotinho Iuniii fofo no zoo de Berlim.

Depois de tanta fofisse dos hipopótamos (eu sei que são animais violentíssimos na natureza, e deu pra sentir a pressão quando um deles resolveu se manifestar com um gemido, o aquário inteiro tremeu), foi a vez de uma mãe com seus patinhos dar o ar da graça,  e passear pertinho do vidro e da gente. Olha isso:

Eu gosto muito dos suricatos, por causa da posição que o meu cachorro faz, com as patinhas juntinhas, me lembra muito, são muito engraçadinhos.

Um suricato no alto do morro recebendo a luz divina do sol.

Agora eu passei mal mesmo quando cheguei no zoo infantil, onde é possível comprar ração e dar comida para as cabras e cabrinhas muito pequeninhas que acabaram de nascer. A mãe estava cheia de leite, e o cheiro forte lembrava queijo de cabra, que eu amo. Fiquei tão apaixonada que até perdi um brinco que tinha acabado de ganhar de presente.

Micro cabrinhas no zoo infantil. Até pensei em colocar na mochila pra trazer, mas eu não conseguiria entrar no avião com ela.

Muito dóceis as cabras.

Eu super recomendo também a visita ao aquário do zoo de Berlim, que deve ser pago a parte, mas vale muito a pena. O aquário reproduz diferentes ambientes aquáticos, de água doce e salgada, e tem até um espaço dedicado aos tubarões, com um aquário repleto de sacos de ovos de um tubarão esqualídeo, também conhecido por “Bolsa de Sereia”, onde é possível visualisar a atividade dos filhotinhos dentro do ovo. Incrível.

Aquário de águas-vivas coloridas que sobem e descem.

É possível se distrair acompanhando a dança de águas-vivas e arraias, e observando o colorido de peixes, cobras e crustáceos.

Paguei paixão por esse amigo aí.

Ainda no setor de répteis e anfíbios, entrei no ambiente climatizado dos jacarés e me senti no Brasil. O calor, a umidade e o cheiro do lugar me transportaram por alguns instantes de volta.

Estufa climatizada dos jacarés.

Filhotinho de jacaré.

Último dia em Londres

Londres é mesmo uma cidade plural e muito democrática. Você pode andar com o penteado que quiser, a roupa que quiser, que as pessoas não vão reparar. Podem até reparar, mas jamais irão caçoar de você, apontar, rir ou falar qualquer coisa. Parece que as pessoas simplesmente não se importam. Elas até se importam, mas respeitam a vida alheia. Na verdade, isso é um comportamento comum em toda a Europa. Um exemplo são as casas que tem as janelas voltadas para a calçada, mas não possuem cortinas. As pessoas não tem cortinas porque sabem que ninguém ficará olhando pela janela. Isso é bem comum em  Londres.

Imagem bonita para deixar post mais lindo.

A democracia está na qualidade do espaço público. Transportes que funcionam com qualidade, calçadas limpas, ruas seguras. Vejam na foto abaixo essas cadeiras colocadas no Hyde Park para possibilitar que qualquer um possa tomar banho de sol. Uma bobagem para alguns, mas para nós, um exemplo de civilidade. Eu sempre faço o exercício de imaginar, da pior maneira possível, essas coisas no Brasil: as pessoas roubariam e destruiriam as cadeiras, ou chegaria um maluquinho, estilo flanelinha, e cobraria pelo seu direito de sentar, ou ainda iria te oferecer uns petiscos e uma cervejinha. É um domínio alheio de um espaço público que é de todos nós, na verdade, democrático.

Cadeiras confortáveis e públicas no Hyde Park pros banhos de sol.

A maior manifestação de democracia que vi na vida, fica no mesmo local, e se chama Hyde Park Corner, à sudeste do parque. Lá, encontramos diversas pessoas, em cima de pequenas escadas e banquinhos, cercadas por populares, dircursando sobre os mais variados assuntos. Inclusive, um muçulmado discutindo o Alcorão com um judeu, cercado de curiosos e religiosos. E a conversa jamais ultrapassava a barreira do respeito. Conversando com uma londrina, ela me disse que a esquina é famosa por ser o espaço em Londres onde qualquer um pode manifestar sua opinião, religião ou discursar sobre o assunto que quiser, que haverá sempre alguém para ouvir. Ela mesma me disse que já passou pelo parque, e o assunto em pauta era tomate. Estranho, mas acima de tudo, democrático.

Muçulmanos e judeus discutindo religião na praça.

Saímos do Hyde Park em direção ao Palácio de Buckingham. A idéia era refazer a foto que meu pai fez quando estava em Londres, em 1979, em sua viagem pela Europa. Acho que gosto muito de viajar por causa dele, e essa também é a minha maneira de encontrá-lo, mesmo que seja no lugar, em um tempo diferente. Tentar de certa maneira seguir seus passos, sentir os mesmos cheiros e talvez sabores, apreciar as mesmas paisagens. Essa é minha forma de chegar mais perto dele.

Meu pai, de vermelho, tentando ver a troca de guarda em 1979.

Eu, imitando ele, em 2012.

Um lugar chamado Notting Hill

Sábado de manhã em Londres todo mundo vai pra lá, passear pela feira de antiguidades de Portobello Road, no bairro mais charmoso de Londres. É óbvio que eu fiquei com vontade de morar lá, e pré-irritada com a quantidade enorme de turistas de invade o meu bairro nos sábados de manhã. Piadinhas a parte, é uma mistura de feira de antiguidades da praça XV com sábado na General Glicério,ou seja, tem artesanato também, roupas, frutas, legumes, e comida.

Os melhores artistas de rua que já vi, até agora, estão em Londres. Eu pagando de ridícula lá atrás.

Pra quem tem tempo, dinheiro e espaço na mala, é possível encontrar raridades e peças de colecionador. Pra quem tem tempo, nem tanto dinheiro, e nenhum espaço na mala, valeu pra curtir o som dos artistas de rua, muito bons por sinal, com músicas próprias e BOAS, desgustar um crepe, e provar mil vestidos por cima das muitas camadas de roupa, e não comprar nenhum.

É, acho que ficou bom não.

E aí você se diverte com o vendedor de CDs raros colocando músicas pra você ouvir, se distrai na loja de posters e souvenirs bem londrinos, fica chateada por ter comido logo no início da feira e não ter mais estômago pras guloseimas que ficam no final, descobre um armarinho e compra os feltros mais lindos do mundo, fica horas distraída com a vitrine de um loja que tem um monte de máquinas de costura antigas, ganha um brinco do namorado lindo e já começa a usar, morre de amor por um velhinho que carrega seu pequeno cão nas costas, compra um casaco de listrinhas coisa mais phyna, e descobre que você é dona de uma barraca de cupcakes e nem sabia.

Agora eu tenho uma rede de churrasquinhos no espeto no Brasil, e uma barraca de cupcakes em Londres. Dominando o mundo.

Uma dessa pra mim já tava bom.

O velhinho com seu cãozinho. Amarradão.

No final, ainda encontra na vitrine um gato ao lado de uma camisa que parece ter sido inspirada por ele mesmo.

Muito fofo. A foto não imprimiu, mas o olho dele era muito verde, tipo o gato da camisa.